Coices ininterruptos
Há quase um ano não piso numa padaria que fica quase em
frente ao prédio onde moro. Depois de anos de má educação, coices e mau humor
dos funcionários, submergi em densa reflexão na fila de pão e me perguntei: “o
que faço aqui dentro, onde nunca, jamais em tempo algum responderam a um bom
dia/tarde/noite?”. Da fila saí e quando pisei na calçada me senti como um mico
leão libertado nas matas de Silva Jardim.
Não sei a origem dessa grosseria generalizada que começa
com esse estúpido mutismo diante de um “bom dia” e culmina com cara amarrada,
má vontade, chutes e pontapés. Como várias pessoas me disseram que tem
percebido o mesmo no comércio, consultórios, enfim, lugares onde gente trabalha
com gente, me parece que o assunto está na “agenda do dia” como bufam os
politicamente corretos.
De cara, a culpa parece ser nossa. No caso que abre este
torpe (?) artigo por que me sujeitei ao “modus inoperandi” (essa expressão não
existe) da cambada durante anos?
Tudo bem que, como diz a aquela canção, meu coração não é
de papel e a vaga possibilidade de estar ameaçando o emprego de alguém me deixa
estático, mas alto lá. Não mudar de padaria? Pior: há um mês mais ou menos o
gerente passou por mim na banca de jornais e disse “você sumiu, hein?”. Sabem o
que respondi? Nada.
Nas três novas padarias que frequento sou extremamente
bem tratado. Semana passada fui a um consultório médico e a atendente, além de
simpática, se mostrou extremamente educada ao contrário de algumas bigornas de humor
flácida que encontro por aí. De uma maneira geral o ambiente é de coices
ininterruptos.
Há quem diga que é sinal dos tempos, insegurança
generalizada, mas a meu ver a grande questão é a falta de gestão, de comando.
Afinal, autoridade virou crime para os carrascos do politicamente correto que
passam a mão na cabeça de vadios e fuzilam a meritocracia.
Conheço um supermercado de médio porte que pertence a um
português muito gente boa, amante de Fernando pessoa daqueles que pagam álbuns milhares
de reais por uma primeira edição de Fernando Pessoa. O mercado funciona melhor
do que relógio, os funcionários são gentis, estão sempre à disposição,
conversam.
O dono toma café num shopping aqui perto e sexta-feira
encontrei com ele. Levantou, desejou Feliz Ano Novo e, claro, perguntou “como
está a nossa casa?”, o mercado. Respondi que estava bem, bons produtos, bons
preços mas, sobretudo, a gentileza e educação dos funcionários. Aproveitei e
emendei “como você consegue manter esse alto astral enquanto em outros lugares
somos tratados como lixo?”. O português nem pestanejou: “bons salários e
porrada. Pago bem mas exijo fineza porque aquele estabelecimento me representa,
é a minha cara exposta. Tenho três gerentes excelentes e até engulo algumas
falhas do pessoal, mas grosseria com os clientes significa rua no ato.”
Provoquei: “é o caso daquela padaria...”. O português: “os donos não são do
ramo, pagam mal, não tem comando nenhum”.
Pensei “apesar disso tudo fiquei como um bovino
enfileirado com outros bovinos naquelas filas de humilhação”.
Por que?
Tem um mercado perto de Itacoatiara que cansei de dar bom dia ao vento. Com a politica da reciprocidade em dia, agora quando chego no caixa já estou com o celular na orelha simulando terminar uma conversa e disparo:"ela não dá bom dia? Então mande a merda". As moças me olham assustadas. Sabem que estou dando um recado hahahaha
ResponderExcluir